Mulheres negras e indígenas se reuniram nesta quarta-feira, 25, na Praça Franklin Roosevelt, na capital paulista, para realizar a terceira edição da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
A escolha da data é proposital. Em 1992, durante um encontro na República Dominicana, um coletivo de mulheres, junto à Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a criação do Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha em 25 de julho.
Transformada em um marco internacional, a data surgiu da necessidade de debater e lutar contra a violência, o racismo e o machismo que essas mulheres enfrentam diariamente.
De acordo com a ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, 14 dos 25 países do mundo com as taxas mais altas de feminicídio estão na América Latina e no Caribe.
No Brasil, uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a taxa de homicídios de mulheres negras aumentou em média 15%, enquanto entre mulheres não negras caiu 8% .
Gisele Monteiro, 41, é militante há cerca 10 anos e diz que a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo desta quarta-feira representa algo muito forte: “Nós, mulheres pretas, estamos na base. Então ter um dia que a gente possa gritar e mostrar que estamos vivas, fortes, trabalhando, resistindo, criando os nossos filhos (a maioria sozinhas) é muito importante” diz a empreendedora.
O dia Nacional da Mulher Negra foi sancionado no Brasil em 2014 pela Lei nº 12.987/2014, estabelecendo também a data como o Dia Nacional de Tereza de Benguela, uma homenagem à líder quilombola morta por homens brancos no século 18.
Na capital paulista, a marcha é organizada desde 2015 pelo coletivo Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. Nos últimos dois anos, mais de 5 mil mulheres negras compareceram às ruas nos dias 25 de julho.
Em 2018, a marcha reuniu mulheres de diferentes idades e gerações, mas com um mesmo propósito: lutar ao mesmo tempo que celebram a força das mulheres negras e indígenas.
Entre as principais questões abordadas na marcha estiveram temas como o genocídio, o racismo na infância e o racismo religioso. As mulheres também reivindicaram a garantia de direitos e o fim da negligência e violência do Estado.
Muitas mães compareceram à Praça Rooselvet em busca de um futuro melhor para as próximas gerações. É o caso da estudante de Psicologia Carolina Macedo, que levou seus 3 filhos (um menino e duas meninas) para inseri-los na luta e mostrar representatividade.
“Aqui é um ambiente onde eles podem se identificar e se amar como são. Eu sempre me senti um patinho feio na minha infância, nunca me identifiquei com o padrão. Mas quando comecei a frequentar esses locais como a Marcha das Mulheres Negras, eu percebi que meu cabelo e minha pele são normais. Quero que meus filhos se sintam representados.” disse.
A pixadora Kawane Moreira da Costa, 17 anos, esteve pela primeira vez na Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. Ela conta que sua avó é militante, então sempre esteve inserida no ativismo desde criança e que, inclusive, já compareceu à outras marchas do movimento negro.
Kawane também mencionou que, apesar de ser militante, ela também acredita que pessoas brancas podem contribuir para a luta do movimento das mulheres negras.
Pâmela Leonardo, 31, que compareceu às três edições da Marcha, compartilha do mesmo pensamento. Para ela, a empatia por parte das pessoas brancas pode ajudar a propagar as causas das mulheres negras e resultar em avanços.
“Cada vez que a gente traz uma pessoa que não faz parte do movimento, que nunca sentiu esse preconceito, e faz com que ela entenda e apoie nossa causa, a gente ganha um ponto. Então a gente tem um multiplicador e, para mim, isso é muito importante”, declara a psicóloga.
A Marcha teve início às 17h40 com concentração na Praça Rooselvet, passou pelas ruas do centro da capital paulista e terminou às 21h30 no Largo do Paissandú.
Símbolo de luta e resistência, a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo reforça a necessidade da união feminina para ampliar a voz de todas.
Afinal, como diz o manifesto: “quando uma sobe e puxa a outra, na certeza de que quando uma negra avança, ninguém fica para trás!”